- Raquel Cantarelli
Ladrões de Sonhos

Roubem-nos tudo,
Mas deixem-nos os Sonhos!
Roubem-nos o pensamento onde brotam as ideias,
Toda nossa reserva de matéria bruta
Tirem-nos a luz que nos faz crescer e vingar
Onde das incógnitas construímos nossas grutas
Cheias de mistério, feito feixes de lumens
Maior que a gente mesmo, espectral:
Nossa Matriz Divinal...
Roubem-nos a luz da consciência que nos aquece,
Nossa psicogenética, nosso caldeirão de lutas
Cortem nossas asas cibernéticas, moldadas em
Feixes de moléculas e em vórtices de visualização
Desintegrem todo o cardápio a nossa espera
Cortem as pontes de nossos horizontes
E arranquem a chama de nosso coração
- mas não nos roubem os sonhos...
Roubem-nos o sentimento
Humilde – dentro do encéfalo encubado,
Cortem as cordas de nossas laringes
Deixem-nos tísicos, mínimos, raquíticos
Roubem-nos até mesmo o coração,
Que nos dá nossas dores, fracassos e amores
Roubem-nos toda esperança e nos deixem aflitos
Deixem-nos no escuro, mendigos
Sob o faiscar de poucos e mirrados lumens,
Já que nos são quase tudo...
- mas não nos roubem os sonhos!
Podem nos tornar apáticos,
Zumbis, molambos
Mendigando sentimentos e sentidos
Reduzir-nos ao chão nada nobre
Prender nossas mãos
Amordaçar nossa língua
Mas ainda seremos livres
Se nos deixarem os sonhos.
Pois onde estiver nossa visão
Mesmo zumbis, sonhadores seremos;
E mesmo mortos de fome, viveremos
E de nossos sonhos,
Faremos os nossos sentimentos e emoções
Serem verdades e não mais ilusão.
E tudo será novamente EU POSSO!
Ainda que brumas nos ceguem
Que correntes nos prendam
E sentido nos falte...
E o nosso desejo ardente
Será uma semente
Derramada aos quatro ventos
- Por isso pedimos,
De pensamento, sentimento e
Emoção pedimos:
Roubem-nos tudo...
- Mas não nos roubem os sonhos!
Isso não!