
Raquel Cantarelli
Sim e Não

Um jovem herói aprendiz perguntou a Aurélyus Néquilus, Pensador de Etherys e Professor em Kaibalyon:
— O búfalo tem consciência, Pensador?
O pensador respondeu:
— Sim e não.
Sentado em posição de meditação, sobre um pentagrama, o jovem etheryano havia recebido seu primeiro ensinamento. Vendo que ele não havia entendido, o Pensador continuou:
— Esse é seu primeiro ensinamento, meu jovem. Se você não ultrapassar esse portal, se não cortar o caminho da arte de pensar, você será facilmente transformado em soldado para o exército do senhor do medo.
— Como posso aprender a pensar? Gostaria de me tornar um etheryano verdadeiro e não um infeliz.
— Para isso basta que aprenda a não se agarrar às coisas frágeis e supérfluas. Não desperdice sua energia com o que não é importante. Aprenda onde se deve colocar o sim ou o não.
O jovem herói aprendiz estava na realidade tentando compreender a natureza de Morphys e queria saber o que é divino e o que é apenas natureza.
O jovem etheryano queria saber na verdade o que muitos de nós também queremos: os maus, os infelizes, os solitários, os deprimidos e os que vivem sob o domínio do medo, têm natureza na matriz divina? Não é o que nos perguntamos?
Estariam os etheryanos que já evoluíram acima dos outros que ainda não conquistaram a felicidade?
O Professor Aurélyus, percebendo o momento de expansão da consciência daquele jovem herói aprendiz, não perdeu tempo em lhe dar algumas coisas para que pudesse pensar, respirou fundo e disse apenas:
— Sim e não.
— O que significa “sim e não”? As palavras em si são contrárias, como podem servir como resposta a uma mesma pergunta?
— Significa, meu jovem aprendiz, que não está negando e nem afirmando nada. Caberá a você encontrar resposta a esse enigma. A realidade está muito além de ser ou não ser. Você terá que atravessar a barreira das simples palavras ou será escravo delas para sempre e nunca vai expandir a consciência.
— Quer dizer que eu tenho que escolher entre o sim e o não, professor?
— Não posso lhe responder isso, mas se olhar atentamente a tudo o que está em sua volta, verá que é o próprio Morphys quem conecta tudo com sua matriz divina. Ele está em toda parte, em tudo e em todos. Ele preenche, penetra e permeia todas as coisas.
— Então quer dizer que Morphys está também no imundo, no feio e no impuro? Porque ele permite o sofrimento? Se ele é o grande reservatório de sonhos, porque não deixa a todos felizes?
— Cada um tem que escolher se quer ou não ser feliz. Morphys apenas abre o catálogo para que possamos acessar.
— Posso escolher ser feliz, professor?
O professor Aurélyus apenas sorriu e depois de suspirar por um longo tempo apenas respondeu:
— Sim e não...